Os Evangelhos normalmente usam os milagres para
enfatizar o poder e a autoridade de Jesus. Pelo menos nove histórias, no
entanto, focalizam a fé. “A tua fé te curou”, dizia Jesus, desviando a
atenção de si próprio e dirigindo-a à pessoa curada. O poder milagroso não
provém apenas de sua parte; às vezes, depende, de alguma forma, de uma resposta
do indivíduo.
Certa vez, li todas as histórias de milagre juntas
e achei que elas revelam graus notavelmente diferentes de fé. Algumas pessoas
demonstravam uma fé ousada e inabalável, como um centurião que disse a Jesus
que não fazia questão de uma visita – apenas uma palavra curaria seu servo a
distância. “Vou lhe dizer uma coisa, não conheci ninguém em Israel com tamanha
fé”, observou Jesus, espantado.
Em outra ocasião, uma estrangeira perseguiu Jesus
enquanto Ele procurava paz e tranquilidade. A princípio, Jesus não lhe uma só
palavra. Depois, Ele respondeu rispidamente, e não para os “cães” –
referindo-se à sua condição de gentia. Mas nada conseguia deter aquela mulher
cananéia, e sua perseverança conquistou Jesus. “Mulher, tens uma grande fé!”,
disse Ele.
Jesus parecia impressionado com o fato de que, como
estrangeiras, essas pessoas eram as de que menos se poderia esperar que
demonstrassem tanta fé. Por que um centurião e uma cananéia, sem quaisquer
raízes judaicas, poderiam depositar sua confiança em um Messias cujos próprios
conterrâneos tinham dificuldade em aceitar?
Essas histórias constituem uma ameaça para mim,
porque raramente tenho uma fé não pronunciada. Ao contrário da mulher cananéia,
sou facilmente desestimulado pelo silêncio de Deus. Quando minhas orações não
parecem ser respondidas, sinto-me tentado a desistir, e não a pedir novamente.
Identifico-me mais facilmente com o homem cético que declarou a Jesus: “Eu
creio; ajuda-me na minha falta de fé!” Com muita frequência, pego-me refletindo
essas palavras, oscilando entre a crença e a descrença, perguntando-me quanto
estou perdendo por minha incredulidade.
Às vezes, Jesus se surpreendia com a falta de fé
que constatava. Marcos faz seu extraordinário comentário sobre a visita de
Jesus à sua cidade natal: “Não pôde fazer ali nenhum milagre, senão curar uns
poucos enfermos, impondo-lhes as mãos.” Estranhamente, o poder de Deus foi
“paralisado” pela falta de fé.
Para minha surpresa, notei, enquanto lia as
histórias, que as pessoas que melhor conheciam Jesus às vezes hesitavam em sua
fé. Seus próprios vizinhos o colocavam em dúvida. João, o Batista, que
proclamara: “Eis o Cordeiro de Deus!” e que ouvira uma voz vinda dos céus por
ocasião do batismo de Jesus, mais tarde chegou a questioná-lo. E várias vezes
Jesus observou com admiração a falta de fé dos 12 discípulos.
Os três discípulos mais íntimos de Jesus
testemunharam um dramático milagre pouco depois da sua morte. No Monte da
Transfiguração, o rosto de Jesus brilhava como o Sol, e suas vestes se tornaram
resplandecentes e sobremodo brancas. Uma nuvem envolveu os discípulos, e dentro
dessa nuvem, para a surpresa de todos, eles encontraram dois gigantes há muito
falecidos da história judaica: Moisés e Elias. Era demais para a concepção dos
embasbacados discípulos; quando a voz de Deus se fez ouvir dentro da nuvem,
eles caíram por terra, aterrorizados. Entretanto, que impacto teve esse
estupendo evento? Pouco depois, as testemunhas oculares da transfiguração se
juntaram aos outros 12 discípulos que abandonaram – negaram, no caso de
Pedro – Jesus no momento em que ele mais necessitava.
Esquecemo-nos facilmente de que Judas assistira,
durante três anos, à operação de grandes milagres por Jesus e de que ouvira
seus ensinamentos; mesmo assim, traiu Jesus. Outro discípulo, “o descrente
Tomé”, ganhou a fama de cético, mas, na verdade, todos os discípulos
demonstravam certa falta de fé. Nenhum deles acreditou nos fantásticos relatos
que as mulheres trouxeram do túmulo vazio. Mesmo depois que Jesus apareceu-lhes
pessoalmente, diz Mateus: “Alguns ainda duvidavam”.
Uma curiosa lei da reversão parece atuar nos
Evangelhos: a fé aparece onde menos se espera e falha onde deveria triunfar.
Diante do que foi exposto até aqui, será que o
querido irmão pode também receber a declaração de Cristo - “grande é a tua fé!”.
Rev. Carlos Roberto (Bob)
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