terça-feira, 9 de agosto de 2011

A Esperança da Angústia


Na minha angústia, clamei ao Senhor, e ele me respondeu; do ventre do abismo, gritei, e tu me ouviste a voz”.Jonas 2.2

O livro de Jonas desperta o nosso imaginário, pois, a sua história é uma oportunidade de interrogarmos sobre nossa missão e vocação. Sobre o que temos de particular e único. Numa conscientização coerente e relevante de que, o que temos de fazer nesta vida, ninguém pode fazer em nosso lugar.
Nessa história a negação do profeta Jonas da sua missão principal provocou tempestades, turbilhões, vazios existenciais quase intransponíveis.
Ler a história de Jonas é fazer uma incursão no mais profundo dos oceanos – nosso próprio ser. Você terá a bela oportunidade de descobrir que a história de Jonas não fala somente á nossa razão, ao mundo das explicações lógicas, mas principalmente ao nosso coração, aos nossos sentidos, por meio de imagens e símbolos.
Jonas é, pois um livro que nos faz pensar e sonhar. Pensar e, talvez, até mesmo chorar pelo que somos, e então, sonhar com o que poderemos vir a ser.
No capítulo dois de Jonas, aponta que a crise do profeta foi a crise da apatia suicida. Ele perdera a visão da soberania de Deus como senso a mais importante de todas as realidades. Isso porque deixou de orar e, no seu silêncio em relação a Deus, foi morrendo. Ele afirma, literalmente, que a sua alma estava desfalecendo (2.7). Quando a alma deixa de orar, ela começa a morrer. A primeira pergunta a ser-lhe feita agora é se você ora regularmente. A resposta poderá casualmente ser “sim”. Mas este “sim” possivelmente seja um “sim” de alguém que só ora no auge da angústia. Outra pergunta é se você está vivendo algum tipo de projeto de vida onde haja uma busca sadia de Deus e do próximo. Ou se você já está vivendo, hoje, algum tipo de apatia espiritual.
O sempre surpreendente Guimarães Rosa dizia: “o animal satisfeito dorme”. Por trás dessa aparente obviedade está um dos mais profundos alertas contra o risco de cairmos na apatia existencial. O que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia vital toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas já estão, rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se na acomodação.
Os três dias no ventre do peixe mostram relutância quanto a ter buscado o salvamento de Deus. Primeiro ele vai às regiões mais profundas, antes de orar. Ele diz: “Fui aos terrores da terra. As algas ficaram na minha cabeça”. Jonas sofreu problemas de pressão. Ele diz que já ia desmaiando (2.7). Agarrando-se aos fiapos da alma, suspira: “Deus! (2.6b)” Depois disso tudo há ainda um segundo pedido suicida (4.3). Ele só ora para pedir a morte. Em seguida vem seu último apelo suicida (4.8,9). Jonas era um indivíduo amargurado, que perdera o pique pela vida.
É, no entanto, no ventre do peixe que ele começa a recuperar sua saúde humana e de sua fé. No ventre do peixe que começa a recuperar a saúde de sua alma, quando restaura uma das mais fantásticas possibilidades da alma humana, a possibilidade da angústia. Quando diz: “Na minha angústia clamei ao Senhor”. Angústia aqui aparece como um sintoma de que a alma está viva. Pois até então sua apatia só falava de uma alma sem nervos, morta.
É animador ver Jonas angustiando-se (2.2). A angústia é possibilidade de esperança. Este é um sentimento que pode ser muito sadio. Pessoas que dizem que estão tranquilas, muitas vezes estão apáticas. Há uma distância abismal entre tranquilidade e apatia. Alguns estão de fato extremamente serenos – quase mortos de tanta serenidade. Estão imersos numa profunda apatia: sem sonho, sem visão, sem chama, sem paixão, sem desejo, sem esperança e sem projeto. “Tranquilíssimos!” Por isso é que ouso dizer: Bem-aventurados os angustiados; deles é a esperança! Bem-aventurados os que estão gemendo de inconformidade com a própria vida, e a possibilidade de haver algo novo! Portanto, aprendemos em Jonas, que uma realidade positiva que traz melhora à alma é a possibilidade da angústia.
No interior do peixe, no fundo daquele inferno, Jonas lembra-se daquele que é e faz ser. Admite estar cansado de fugir, arrependido de ter ferido pessoas inocentes por causa de sua covardia, omissão e egoísmo.
As circunstâncias adversas muitas vezes nos encurralam e nos empurram para a presença de Deus. Quando os nossos recursos acabam, quando a dor assola o nosso peito, quando nos sentimos entrincheirados por situações inadministráveis, quando reconhecemos que chegamos ao fim dos nossos expedientes, somos compelidos a buscar a face do Eterno. Warren Wiersbe diz que a oração de Jonas nasceu da aflição e não da afeição, pois até então, Jonas considerava a vontade de Deus algo para se voltar numa emergência, não um parâmetro para a vida diária.
Essa experiência de ser tragado pela vida e submerso pela dor, pela decepção e pelo sofrimento nos lembra, sobretudo, que não há profundezas que Deus não possa alcançar e escuridade que Ele não possa estancar. Portanto no ápice do sofrimento, no interior do monstro que nos aprisiona e assusta, é preciso lembrar que há algo em nós que está protegido – a nossa vocação para ser.
Concluímos essa pastoral afirmando aos queridos irmãos e amigos, que a esperança pode brotar das angústias que amarrotam e sufocam a nossa interioridade. E, que, se deixarmos o Espírito Santo trabalhar em nós, veremos as angústias, tempestades, crises como possibilidade de sair do outro lado respirando o ar fresco da graça e da vida de Deus, para buscarmos uma espiritualidade que gere discípulos a serviço do Reino.
Rev. Carlos Roberto de Freitas