segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CORAÇÃO COMPUNGIDO E CONTRITO



"Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás" (Salmos 51.17)

Uma das marcas do nosso tempo é o abandono do temor a Deus. Temor é uma palavra que a cultura contemporânea excluiu do dicionário. No lugar dela, cresce a busca pela autoconfiança. Uma vez que não temos nenhum referencial fora de nós, assumimos que somos nosso próprio deus. Num mundo assim, não existem limites ou fronteiras. Tudo é possível, permitido e aceitável. Surge então um desequilíbrio perigoso.
A oração do rei Davi no Salmo 51 é uma das pérolas da Bíblia. Não posso imaginar a vida sem essa oração, que nos conduz às profundezas da alma humana. Encontramos nela o espelho dos movimentos mais profundos de nossas emoções. Ela descreve a anatomia da alma humana e demonstra um equilíbrio maduro entre o temor a Deus e uma auto-estima saudável.
O contexto é bem conhecido. Trata-se do terrível adultério do rei Davi com Bate-Seba, seguido da trama para matar seu marido, Urias. O plano perverso de Davi acontece. Depois da morte de Urias, ele se casa com Bate-Seba e o filho nasce. Porém, Davi não consegue conviver em paz com seu pecado. Graças a Deus por isso. Ele tentou esquecer, remendar, mas nada adiantou. Seu corpo começou a sentir o peso do pecado. Por mais que a cultura moderna nos tente convencer que o pecado não existe, seus sinais estão por toda parte.
Não havia sacrifício para o pecado de Davi, já que o crime que cometeu fora premeditado. É por isso que ele diz: “Pois não te comprazes em sacrifícios; do contrário, eu tos daria; e não te agradas de holocaustos”. Davi então entende que o sacrifício com o qual Deus se agrada é um espírito quebrantado e um coração compungido e contrito. Pouca coisa descreve melhor a necessidade humana do que essa declaração. Algumas razões:
Um espírito quebrantado e um coração contrito nos conduzem à realidade sobre quem somos. Observe os pronomes usados por ele: “minhas transgressões; minha iniqüidade; meu pecado; eu pequei contra ti; eu fiz o que é mau, eu nasci na iniqüidade”. Davi tem consciência de quem ele é. Isso nos ajuda a parar de jogar e brincar com a vida - a nossa e a dos outros. Por causa desse coração e espírito, ele assume seu erro e pecado. Não busca justificar seu erro com o erro dos outros, com aquelas desculpas conhecidas: “todo mundo faz o mesmo”, “não tive escolha”, “fui pressionado”. Ele não diz que foi “consensual”. Adultério é adultério, mesmo sendo consensual. Ele sabe que sua ofensa atinge primeiramente a Deus: “Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal perante os teus olhos; esconde o rosto dos meus pecados; não me repulses da tua presença, nem me retires teu Santo Espírito”. É a Deus que ele ofendeu, antes de Bate-Seba e Urias. É isso que o temor a Deus produz.
Essa oração nos conduz também a uma compreensão real sobre Deus. Veja a forma como ele se refere a Deus: compaixão, benignidade, misericórdia, amor, justiça, santidade. Ao pedir para ver a glória de Deus, Moisés ouviu a seguinte resposta: “Farei passar toda a minha bondade diante de ti... terei misericórdia e compaixão”. Davi volta-se para essa revelação, para o amor eterno, amor da aliança. É nesse amor que ele se apega. É nessa compaixão que ele deposita sua confiança.
É uma oração que nos conduz a um milagre. Encontramos nela afirmações enfáticas: “Purifica-me, lava-me, faze-me ouvir júbilo e alegria, cria em mim um coração puro, renova dentro em mim um espírito inabalável, apaga as minhas transgressões, restitui-me a alegria da salvação, sustenta-me com um espírito voluntário, livra-me dos crimes, abre meus lábios”. Ao suplicar pelo milagre de um coração puro, Davi usa a mesma palavra de Gênesis 1: Deus criando a partir do nada. Somente ele pode criar uma nova realidade, uma nova criação. É exatamente o que Jesus veio fazer: “Eis que faço novas todas as coisas”.
Deus não despreza um espírito quebrantado e um coração contrito. É somente com um temor sincero para com ele que podemos desenvolver uma compreensão clara sobre nós. É essa atitude que torna possível ao ser humano construir uma autoconfiança saudável.
Rev. Carlos Roberto

 

 


Pense bem...

 

Um espírito quebrantado e um coração contrito nos conduzem à realidade sobre quem somos. Observe os pronomes usados por ele: “minhas transgressões; minha iniqüidade; meu pecado; eu pequei contra ti; eu fiz o que é mau, eu nasci na iniqüidade”. Davi tem consciência de quem ele é. Isso nos ajuda a parar de jogar e brincar com a vida - a nossa e a dos outros. Por causa desse coração e espírito, ele assume seu erro e pecado.”

terça-feira, 1 de novembro de 2011

UM CORAÇÃO GRATO A DEUS


“As primícias dos frutos da tua terra trarás à Casa do Senhor, teu Deus...”  Êxodo 23.19

Este texto nos convida a trazer as primícias da colheita para Deus. Trata-se de oferecer antecipadamente , expressando nossa confiança e dedicação. Esta oferta revela uma gratidão não circunstancial, mas existencial, movida por reconhecimento, não por medo e barganha. Ela é fruto da consciência de quem Ele é e de quem somos. Em primeiro lugar4, porque Deus é bom e “a sua misericórdia dura para sempre” (Salmo 106.1).
Esta premissa nos parece óbvia e natural, mas Deus poderia ser um tirano, sádico, cruel, que tivesse  prazer em nos enganar, como faziam algumas divindades da Antiguidade. Ele poderia nos controlar através do medo, mas deseja nos cativar e estabelecer  conosco uma relação filial. Apesar disso, nossa maior tentação é duvidar de sua bondade. Foi essa dúvida insuflada pela serpente, que provocou a Queda. Em seu livro A BATALHA DA CRUZ, Rubem Amorese comenta: “A estratégia de Satanás [...] consiste em produzir , por meio do sofrimento, um coração ingrato; portanto, ressentido, rancoroso, amargurado, revoltado e rebelde”.
Achamos que, por nos amar, Deus deve nos livrar do sofrimento. Assim, quando o mal nos aflige, sentimo-nos como que abandonados por Deus. Até Jesus questionou o Pai na cruz, mas morreu reafirmando sua comunhão com ele.
Sim, Deus é fiel. Seu amor é generoso e incondicional. Não depende de reciprocidade. Não é manipulador, com a maioria de nossos relacionamentos. Não é uma incógnita. Pelo contrário: revela-se, em vez de se esconder e nos deixar tateando no escuro. Também não é um deus ausente, mas um Deus que intervém, muitas vezes através de nós, dando-nos o privilégio de ser emissários, portavozes e expressão de seu amor. Tampouco é um deus distante ou autoritário, mas um Deus que nos ouve e interage conosco.
Portanto, nossa gratidão é fruto do olhar amoroso e perdoador de Deus, que nos liberta da culpa, rebeldia...
Todavia, temos observado em nossa religiosidade que é mais fácil  ser grato pelos benefícios materiais. Mas, mesmo assim, às vezes demoramos em sê-lo, pois, só damos valor à saúde quando ficamos doentes. Só valorizamos as pessoas quando deixam saudades. Só valorizamos a igreja quando mudamos para longe ou diante de outras impossibilidades. Dessa forma, se somos ingratos em relação às bênçãos materiais, quanto mais com as bênçãos que dependem de discernimento. Pois, a gratidão nos renova, nos ajuda a enxergar além do sofrimento, além do mal (2 Coríntios 4. 15-18), nos permite dar graças pelas provações (Tiago 1.2); não pelo sofrimento em si (que não é  da vontade diretiva de Deus), mas pela capacidade divina de reverter o mal em bem.
Deus nos alerta que, no mundo teremos tribulações. Ele não nos livra sempre das dificuldades, mas muda nosso olhar sobre elas. Está junto para nos capacitar a lidar com o sofrimento, de forma que este  não seja inútil. Ele nos ajuda a passar da revolta para a superação. Gratidão é uma graça que nos capacita a discernir  quem é Deus e quem somos para viver e partir de nossa verdadeira identidade de filhos amados pelo Pai, salvos  pelo Filho e capacitados pelo Espírito Santo.
Rev. Carlos Roberto

 

 


Pense bem...

 

“Deus nos alerta que, no mundo teremos tribulações. Ele não nos livra sempre das dificuldades, mas muda nosso olhar sobre elas.”

“O propósito da vida é viver com propósito”



O que faz diferença entre a vida cristã altamente motivada e a vida cristã que obedece a uma rotina sem nenhum entusiasmo? O apóstolo Paulo, em sua despedida aos cristãos de Éfeso (Atos 20. 17-38), faz algumas declarações que deixam transparecer segredos para uma vida cristã fascinante, cheia de aventuras com Deus.
Parece que Paulo conseguia fechar os olhos e ver o filme do Reino de Deus se desenrolar na história. Suas palavras “o Espírito Santo me diz, de cidade em cidade” (Atos 20.23) indicam que, à semelhança de Jesus, estava em sintonia com o mover de Deus (João 5.19), e conseguia ver o que o Espírito Santo estava fazendo e desejando fazer em seus dias ao redor do mundo. Ele enxergava o futuro, e percebia toda a trama espiritual envolvida na construção desse futuro. Paulo fechava os olhos e via lugares, pessoas, situações; ouvia a trilha sonora que fazia fundo à ação ininterrupta de Deus na história humana.
Está claro que o apóstolo Paulo se via nesse filme. Ele conseguia enxergar sua contribuição específica no processo histórico do reino de Deus. Ele participava de muitas cenas desse filme que lhe passava pela mente e pelo coração. Ao reafirmar seu dever de “completar a carreira” (Atos 20. 24), o apóstolo expressa claramente a convicção de que, no filme do Reino de Deus, ele não era espectador, mas ator. Não estava na platéia, mas em cena. Além disso, declara que sabia exatamente qual era o papel que lhe cabia e quais eram as expectativas do Grande Roteirista para ele, Paulo. O fato é que o apóstolo não encarava a vida como sucessão aleatória de circunstâncias. Ele via as circunstâncias como sets de filmagens para que ele pudesse cumprir seu papel nessa superprodução de Deus. Consciente de seu papel aproveitava todas as situações de seu cotidiano como oportunidades do Reino.
Por fim, declara solenemente a convicção de que seu papel representava uma vocação divina: “A carreira que recebi do Senhor Jesus” (Atos 20.24). Paulo sabia que seu papel fora desenhado, concebido pelo Senhor do Reino especialmente para ele – algo como se o Senhor Jesus tivesse preparado o apóstolo para aquele papel específico da história. Ele estava convicto de que aquilo que o Senhor Jesus esperava dele era algo que poderia fazer porque fora talhado para aquela cena. O papel tinha a cara dele.
Essa certeza – de que temos uma contribuição a dar no Reino de Deus, uma contribuição que somente nós, naquela situação, podemos dar – torna a vida cristã uma aventura fascinante. Essa visão do todo e este senso de localização histórica, ainda mais numa trama com significado eterno, traz paz e nos torna mais bem-sucedidos na vida. Todos os estudiosos do comportamento humano acreditam que um dos fatores mais importantes para o equilíbrio humano é a visão do futuro aplicada à situação específica de si mesmo.
Por isso irmãos, Jesus tinha razão: a vida deve ser vivida na perspectiva do Reino de Deus: “buscai primeiro”, e a partir desse compromisso experimentar “todas as outras coisas”. Quem busca primeiro “todas as outras coisas” cava a própria sepultura existencial, pois “aquele que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por minha causa, disse Jesus, vai achá-la” (Mateus 16.25).
Paulo encarava que o lugar para onde Deus chama é o local no qual sua alegria mais profunda e a maior necessidade do mundo se encontram. Pois, seu propósito em viver é servir a Deus por meio do serviço a humanidade. Dessa forma, com muita autoridade, afirmava que todas as coisas que aconteceram em sua vida contribuíram para a expansão do Reino de Deus. Portanto, temos que nos fazer uma pergunta muito importante. No mais profundo de nossos corações: o que queremos edificar - nosso próprio reino ou a expansão do Reino de Deus? O homem tem dentro de si um desejo de edificar. A questão é: estamos edificando para nós mesmos ou para Deus? Vamos cair na armadilha de Satanás – o orgulho? Seremos como Nabucodonosor, que disse em Daniel 4.30: “... Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei...?”
Tenho que ser muito honesto e dizer, que o que vejo pregar sobre a mensagem do Reino de Deus hoje em dia, e o que leio nas escrituras sobre esta mensagem são duas coisas completamente diferentes.
Com a mesma intensidade estou também convencido de que, se Martinho Lutero, o homem a quem Deus usou para fazer com que a Reforma acontecesse, estivesse em nossa igreja evangélica de hoje, ele estaria fazendo todo o possível para que houvesse outra reforma. Elton Trueblood também disse que nós precisamos de uma segunda reforma. A primeira reforma entregou a Palavra de Deus ao povo de Deus, agora, porém, precisamos de uma reforma que entregue a Obra (Missão) de Deus ao povo de Deus.
Rev. Carlos Roberto

 

 


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Jesus tinha razão: a vida deve ser vivida na perspectiva do Reino de Deus: “buscai primeiro”, e a partir desse compromisso experimentar “todas as outras coisas”. Quem busca primeiro “todas as outras coisas” cava a própria sepultura existencial, pois “aquele que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por minha causa, disse Jesus, vai achá-la” (Mateus 16.25).

Ansiedade, quando o futuro parece sombrio


Ansiedade é a doença mais democrática da nossa geração. Atinge pobres e ricos, jovens e velhos, doutores e analfabetos, cristãos e ateus. Ansiedade é ocupar-se com um problema que ainda não está acontecendo. É sofrer antecipadamente. É deixar de viver de forma plena hoje com medo do amanhã. A ansiedade é o estrangulamento da alma, a asfixia das emoções, o cárcere da esperança.
Vamos examinar três pontos importantes sobre o assunto em tela:
Em primeiro lugar, as causas da ansiedade. Há muitas causas que provocam a ansiedade. Destacaremos algumas: Primeiro, a fraqueza inerente de nossa natureza humana. Somos absolutamente dependentes. Somos extremamente fracos e vulneráveis. Podemos ser vencidos por um vírus ou uma bactéria menor do que um cisco. Segundo, as circunstâncias adversas. Não conhecemos o futuro nem administramos as circunstâncias à nossa volta. As rédeas da nossa vida não estão em nossas mãos. Estamos sujeitos às intempéries e vicissitudes da vida. Terceiro relacionamentos turbulentos. As pessoas nos fazem sofrer mais do que as circunstâncias. As pessoas nos decepcionam e nós decepcionamos as pessoas. Quarto, o cuidado com as coisas materiais. Ficamos ansiosos acerca do que havemos de comer, beber ou vestir. A preocupação com as coisas materiais nos consome e torna nosso futuro sombrio.
Em segundo lugar, a natureza da ansiedade. A ansiedade não é apenas uma doença, mas, sobretudo, um pecado. A ansiedade é inútil, pois não podemos alterar as circunstâncias pelo fato de ficarmos ansiosos. Na verdade, por mais ansiosos que estejamos não podemos acrescentar um dia sequer à nossa vida. A ansiedade é prejudicial, pois em vez de nos ajudar a resolver os possíveis problemas do amanhã nos enfraquece para enfrentar os reais problemas do hoje. A ansiedade é ainda um sinal evidente de incredulidade, pois aqueles que não conhecem a Deus é que se preocupam com que vão comer, beber ou vestir. Nós devemos buscar em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça, sabendo que as demais coisas nos serão acrescentadas. Ficamos ansiosos porque duvidamos da fidelidade de Deus e pensamos que podemos administrar nossa própria vida.
Em terceiro lugar, a cura para a ansiedade. O apóstolo Paulo diz que não devemos andar ansiosos de coisa alguma. A solução que ele apresenta é enfrentarmos a ansiedade com adoração, petição e ações de graças. Adorar a Deus é proclamar quem Deus é. Pedir a Deus é confiar no que Deus dá e dar graças a Deus é anunciar o que Deus faz. A maioria dos nossos problemas decorre do fato de não conhecermos suficientemente a Deus. O profeta Daniel diz que o povo que conhece a Deus é um povo forte. Se Deus alimenta os pássaros do céu e veste os lírios do campo, quanto mais ele é poderoso para cuidar dos seus filhos! Em vez de vivermos dominados pela ansiedade, devemos experimentar a paz de Deus que excede todo o entendimento. Nosso coração é um território que jamais fica vazio. Está sempre cheio de alguma coisa. Será povoado pela ansiedade ou repleto de paz. Se tentarmos atrair para nós todo o cuidado da nossa vida, seremos vencidos pela ansiedade, mas se depositarmos aos pés do Senhor toda a nossa ansiedade seremos inundados pela paz de Deus, a paz que excede todo o entendimento.
A ansiedade é uma doença e um pecado. Para a doença tem cura; para o pecado tem perdão. Não precisamos viver estrangulados hoje, sufocados pelo medo do amanhã. Podemos experimentar o melhor de Deus hoje, sabendo que o futuro nos reserva bênçãos ainda maiores. Nossa vida não é um barco à deriva no mar da vida, mas uma nau governada pelo Senhor, que mesmo navegando por águas revoltas e assolada por tempestades borrascosas, chegará salva e segura no porto destinado por Deus, nas praias áureas da eternidade.

Rev. Carlos Roberto

 

 


Pense bem...

 

“A ansiedade é prejudicial, pois em vez de nos ajudar a resolver os possíveis problemas do amanhã nos enfraquece para enfrentar os reais problemas do hoje. A ansiedade é ainda um sinal evidente de incredulidade, pois aqueles que não conhecem a Deus é que se preocupam com que vão comer, beber ou vestir. Nós devemos buscar em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça, sabendo que as demais coisas nos serão acrescentadas. Ficamos ansiosos porque duvidamos da fidelidade de Deus e pensamos que podemos administrar nossa própria vida.”